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Os homens de 1900 acreditavam no progresso. Os seus filhos, em 1910 anunciavam o fim próximo das epidemias, a saúde para todos e reformas garantidas. No fim deste século, estas certezas desapareceram: o preço da saúde não pára de aumentar, não há ano em que não surja qualquer drama - Chernobil, a sida, as vacas loucas - assistimos, inclusive, ao ressurgimento de doenças que imaginávamos erradicadas.
Este livro mostra que existe uma relação entre estes fenómenos e o estado de crise generalizada que caracteriza o nosso tempo.
Nos países desenvolvidos tudo se passa como se o lugar e o objecto dos grandes conflitos sociais tradicionais tivessem sido deslocados. Ontem, ligados à exploração do homem pelo homem, exprimiam-se pelas greves ou pela revolução. Hoje a doença substitui a greve, ou acompanha-a, numa reacção de recusa social, tanto se manifestando sob a forma de resistência passiva,, como testemunhando a sua desorganização.
Contudo, a obsessão da saúde perfeita não desapareceu. A doença é então um desafio disputado pela ordem médica, as empresas, o Estado e a ordem jurídica. Fonte de proveito e de poder, a doença torna-se um personagem social que alarga o seu campo. Explicar os efeitos perversos do progresso, não é abandonar a ideia, mas dar luz a forças novas que as nossas democracias teimam em ignorar. |
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